São Paulo – O Dia Mundial de Conscientização do Autismo é celebrado neste sábado (2) e foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) visando conscientizar as pessoas sobre o tema e reduzir o preconceito e discriminação com quem possui o transtorno do espectro autista.
Abertura da Semana Municipal do Autismo (Fotos: Karla Vieira/Fundo Manaus Solidária e Lucas Silva/Semcom)
O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que pode causar dificuldade na comunicação falada e não verbal, afeta a sociabilidade, além de apresentar uma gama estreita de interesses e atividades que são únicas para o indivíduo e realizadas de forma repetitiva.
No mundo, mais de 70 milhões de pessoas possuem o espectro autista, no Brasil esse número chega a 2 milhões.
Em Manaus, o Instituto Autismo do Amazonas tem como objetivo ajudar familiares e crianças com TEA e, neste dia de conscientização será feita uma programação especial que segue durante a semana na Rua Passes, 106, Conjunto Meridional, bairro Parque 10.
Michele Monteiro, administradora, mãe de Pablo, disse que ele apresentou os traços do autismo ainda bebê, mas somente aos 4 anos de idade foi fechado um diagnóstico. “Hoje em dia, nossa maior dificuldade é com relação a escola porque ele precisa participar de uma classe especial”.
Já a atriz e educadora Fabrícia Eliane, viveu 37 anos sem saber que tinha um grau leve do transtorno autista. “Era bom estar sozinha. Era um ambiente novo e a ideia de conhecer as pessoas me apavorava. Isolar-me no silêncio e sem contato social era confortável”, escreveu Fabrícia.
Ela só foi diagnosticada no processo de buscar tratamento para as dificuldades do filho. A educadora revela que sempre percebeu peculiaridades em Arthur, que à época do diagnóstico tinha 9 anos de idade. Porém, foram os problemas dele em acompanhar o ritmo da escola que levaram a família a buscar um apoio mais consistente para lidar com esses obstáculos. “Ele foi crescendo e, na escola, tinha dificuldades com a alfabetização. Uma dificuldade muito grande de fazer as tarefas”, diz.
Muito antes disso, ela já havia percebido que o menino não lidava bem com determinadas situações cotidianas. Desde que ele era bebê, eu percebia que provavelmente deveria ter déficit de atenção, porque era difícil amamentar, qualquer som externo e ele se distraia muito”, lembra.
A identificação do transtorno foi um choque para Fabrícia. “Como eu, mãe super atenta, educadora, não percebi?”, se questionava. “Depois de passar esse período de me culpar, eu fui estudar para entender como poderia contribuir melhor”, conta. O aprofundamento da pesquisa levou a educadora a perceber em si mesma muitos dos sinais indicativos do autismo.
Segundo o neurologista da infância e adolescência do Hospital Albert Einstein, Erasmo Barbante Casella, muitas pessoas enquadradas no espectro leve do autismo, hoje, adultos na faixa de 25 ou 30 anos, não foram diagnosticados quando crianças. “Nesse período, os médicos não tinham uma formação na faculdade, na residência, sobre o que é o autismo. Havia uma dificuldade de identificar casos mais leves”, ressalta. Segundo ele, as informações sobre o tema passaram a ser muito mais difundidas nos últimos 10 anos.
Mesmo atualmente, de acordo com Casella, nem sempre o diagnóstico é fácil e algumas famílias, às vezes, resistem a aceitar a condição. “A gente, como pai, às vezes, tem uma negação, tem medo de ouvir. Você começa a suspeitar, as pessoas ficam cheias de dedos para falar”, diz. Ele conta que é comum que a família relate a suspeita ao final de uma consulta motivada por outras razões, “quando todo mundo já está de pé”.
Erasmo Casella explica que, quando o transtorno é identificado ainda na infância, é possível trabalhar diversas formas de estímulos para contornar as dificuldades enfrentadas pelas crianças. “Algumas melhoram e são bem funcionais. A qualidade de vida das crianças que são tratadas adequadamente é completamente diferente”, ressalta.
A identificação do autismo pode ser feita, segundo o médico, por profissionais como o neurologista infantil, o psiquiatra infantil e o pediatra do desenvolvimento. O acompanhamento multidisciplinar pode envolver terapia motivacional e fonoaudiologia.
A complexidade do autismo acaba dificultando, de acordo com Casella, o diagnóstico e tratamento do transtorno. “Não é fácil, porque é tudo muito caro. Um profissional consegue atender poucos casos. Teria que ser montado serviços de atendimento para crianças com autismo e com uma equipe multiprofissional”, opina.
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