Paxlovid inibe enzima que o Sars-CoV-2 usa para se espalhar e, com isso, bloqueia formação de novas partículas do vírus
São Paulo – Desde o aparecimento da Covid-19 o setor da indústria farmacêutica acelera pesquisas e ensaios clínicos de vacinas para prevenir a propagação do vírus e de remédios que possam curar os infectados.
Entenda ação de remédio da Pfizer que reduz 89% gravidade da Covid . (Foto: Estadão Conteúdo)
A Pfizer, produtora de um dos imunizantes mais usados contra o Sars-CoV-2, criou um antiviral em forma de pílula que, nos estudos, reduziu em até 89% os riscos de internações e mortes pela doença.
O Paxlovid, como é chamada a droga criada pelo laboratório americano, é um inibidor de uma das enzimas que o vírus da Covid usa para se multiplicar.
“O processo de multiplicação, que vai levar à produção de novas partículas virais, usa uma enzima chamada protease. O Paxlovid age inibindo a protease e, com isso, bloqueia o processo de iniciação da multiplicação, já que não se formam novas partículas do vírus”, explica Valdez Madruga, infectologista e coordenador do estudo sobre esse medicamento no Brasil.
De acordo com os ensaios clínicos, os pacientes infectados precisam receber o medicamento entre o terceiro e o quinto dia do surgimento dos primeiros sintomas da doença.
O tratamento é feito durante cinco dias, duas vezes ao dia. Além da pílula do novo medicamento, os doentes devem receber uma cápsula da droga Ritonavir.
“Os medicamentos da classe dos inibidores de protease são metabolizados no fígado, pelo sistema enzimático chamado citocromo P450, e o Ritonavir vai aumentar o nível sérico [quantidade de substância no sangue] do inibidor de protease. O Ritonavir bloqueia esse sistema enzimático e aumenta o nível do Paxlovid”, observa Madruga.
Essa substância já é usada para o tratamento do HIV, que também é um vírus que utiliza a enzima protease para se espalhar pelo organismo do infectados.
A redução de 89% nos riscos de internações e mortes por Covid, por enquanto, é restrita ao público com algum risco de agravamento da doença.
Os voluntários do estudo foram pessoas acima dos 60 anos ou com alguma comorbidade, como obesidade, diabetes, tabagismo, problemas pulmonares, e imunodeprimidos (pessoas com problemas no sistema imune).
A farmacêutica tem outras duas pesquisas em andamento. Uma pretende verificar a ação do medicamento em pessoas sem comorbidades e a outra, conferir o uso da droga como prevenção da doença.
“No terceiro estudo, pessoas que vivem na mesma casa de um infectado vão tomar a medicação ou o placebo [remédio sem efeito] para observarmos se o Paxlovid foi capaz de evitar a transmissão. É o que chamamos de PEP, profilaxia pós-exposição”, conta o coordenador do estudo.
Nos três casos, os participantes não podem ter sido vacinados. “A vacina também funciona para diminuir a gravidade da doença. Então, as pessoas que já receberam vacina, se tiverem Covid, terão quadro mais leve e ficarão boas mais rápido. O antiviral é usado para diminuir o tempo de doença, e se a pessoa estiver vacinada pode haver confusão para saber se os efeitos são da ação da vacina ou do remédio”, afirma Madruga.
O Brasil é um dos Países onde acontecem os ensaios clínicos, porém os 29 centros de pesquisa do país estão com dificuldade para encontrar voluntários devido ao alto índice de vacinação.
“Começamos tardiamente e, em comparação com os Estados Unidos e países da Europa, só conseguimos incluir um número bem menor de voluntários, porque a população brasileira já está muito vacinada. No estudo de prevenção, o que mais precisamos é de voluntários, porque precisamos de pessoas sem vacinação. Aqui só não tomou vacina quem verdadeiramente não acredita em vacina, e ainda bem que são pouquíssimas pessoas”, comemora Valdez Madruga.
A ação do medicamento contra as variantes ainda não foi analisada, mas os estudos foram feitos entre julho e setembro, quando a Delta se espalhava pelo mundo.
“Ainda não há resposta sobre as variantes. Os dados estão sendo avaliados e não dá para prever. Eu acho que o remédio vai agir também contra as variantes. Mas não é possível cravar essa informação sem a análise dos dados”, conclui o médico.
Os próximos passos para que o remédio comece a ser usado é a aprovação das agências reguladoras de medicamentos de cada País.
Além do Paxlovid, a Merck produziu um medicamento de via oral, o Molnupiravir, já com o uso aprovado pela agência de medicamentos do Reino Unido e em análise na FDA (agência reguladora dos EUA) e na EMA (agência europeia).
Outros tratamentos aprovados, inclusive pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), são com anticorpos monoclonais e o antiviral Remdesivir, que só podem ser usados em hospitais e têm custo muito alto.
Fonte: Governo do Estado do Amazonas em 10/11/2021
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