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“O dever do poeta é agarrar o fogo sagrado que vem do divino e envolvê-lo em canto de palavra e entregá-lo ao povo”,  a frase é do poeta amazonense Thiago de Mello, que  nasceu em Porantim do Bom Socorro, município de Barreirinha (interior do Estado do Amazonas), no dia 30 de março de 1926. É um dos poetas mais influentes e respeitados no país, reconhecido como um ícone da literatura regional no Amazonas e no Brasil.

Ainda criança, mudou-se com a família para Manaus, onde iniciou seus estudos no Grupo Escolar Barão do Rio Branco e, depois, no Ginásio Pedro II. Dez anos mais tarde mudou-se para o Rio de Janeiro e, em 1950, ingressou na Faculdade Nacional de Medicina, mas não chegou a concluir o curso para seguir a carreira literária.

Durante a década de 50, colaborou com veículos de oposição ao governo de Getúlio Vargas, fundou a Editora Hipocampo e dirigiu o Departamento Cultural da Prefeitura Municipal da Cidade do Rio de Janeiro.

Após um período servindo no Itamarati como agente diplomático de cultura do Brasil na Bolívia e, posteriormente, no Chile (onde conheceu o poeta Pablo Neruda).

Em 1965, retorna para o Brasil, porém 3 anos após a sua chegada é perseguido pelo regime militar e se vê forçado a viajar novamente para Santiago (Chile), onde permanece exilado por 10 anos, tempo suficiente para escrever algumas de suas maiores obras que lhe renderam também um prêmio concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte, ainda durante o regime militar, tornando-o conhecido internacionalmente como um intelectual engajado na luta pelos Direitos Humanos.

Após a sua cassação política, também viajou para vários para vários países, rumando a Europa. Em 2021 completa 95 anos de idade.

Thiago de Mello

A poesia de Thiago de Mello mostra seu envolvimento com os dramas e desafios da sua época. Thiago é um dos poucos poetas em que a biografia se entrelaça com o trabalho, criando um todo orgânico.

Seus livros são retratos evocativos de um itinerário através de existência e poesia. Várias vezes o poeta foi forçado a lutar, para si mesmo o exílio; ele é um lutador que sempre foi fiel aos seus princípios, a sua verdade e suas quimeras.

Ele usou a poesia como seu comércio, e na literatura, encontrou a justificação para a sua vida. Por outro lado, fez-se através da poesia. É significativo que, forçados a escolher entre a segurança de uma profissão estável e a insegurança material daqueles que vivem por escrito verso, ele escolheu poesia.

Depois de na fase inicial da poesia predominantemente lírico, Thiago de Mello, tornou-se popular principalmente para os poemas inspirados por sua atividade Política contra o regime militar instalada no Brasil em 1964.

Durante esse período, ele refugiou-se primeiro no Chile, onde viu a queda de Salvador Allende, e mais tarde, vivendo como refugiado político, na Alemanha, França e Portugal.

Voltando ao Brasil, ele decidiu estabelecer-se em sua terra natal, na margem do grande rio Amazonas, e tornou-se um defensor da floresta amazônica, sua fauna e flora ameaçada por predatória sobre-exploração.

De Barreirinha ele viajou frequentemente para várias partes do Brasil e América Latina, inspirando a luta dos brasileiros sensíveis a respeitar e proteger a floresta. Atualmente vive uma vida mais reclusa em Manaus, ao lado da família, onde luta contra uma neuropatia.

A obra Silêncio e Palavra

Publicado em 1951, Silêncio e Palavra ocupa um lugar central na obra de Thiago de Mello. Marca a feliz estreia do poeta, que, em reconhecimento ao seu talento, foi saudado com entusiasmo pela crítica da época, merecendo elogios de ensaístas do porte de Álvaro Lins, Otto Maria Carpeaux, Gilberto Freyre, entre outros. Obra marcada por intenso conteúdo humano, já evidencia toda a força e intensidade poética que marcam a sua poesia.
“Faz escuro mas eu canto”, um dos mais belos versos de Madrugada Camponesa (1965), de Thiago de Mello

Obras de Thiago de Melo 
Poesia
Silêncio e Palavra, 1951
Narciso Cego, 1952
A Lenda da Rosa, 1956
Faz Escuro, mas eu Canto, 1965
A Canção do Amor Armado, 1966
Poesia comprometida com a minha e a tua vida, 1975
Os Estatutos do Homem, 1977
Horóscopo para os que estão Vivos, 1984
Mormaço na Floresta, 1984
Vento Geral – Poesia 1951-1981, 1981
Num Campo de Margaridas, 1986
De uma Vez por Todas, 1996

Prosa
A Estrela da Manhã, 1968;
Arte e Ciência de Empinar Papagaio, 1983
Manaus, Amor e Memória, 1984
Amazonas, Pátria da Água, 1991
Amazônia — A Menina dos Olhos do Mundo, 1992
O Povo sabe o que Diz, 1993
Borges na Luz de Borges, 1993

Frases do autor:
E como são onda e mar, seremos homem e palavra”.
(Thiago de Mello, Silêncio e palavra)
“A cada instante morremos, dessa morte renascemos”.
(Thiago de Mello, Poema de nossas mortes)
“Esse momento fugaz merece o nome de vida”.
(Thiago de Mello, Poema de nossas mortes)
“Somente sou quando em verso”.
(Thiago de Mello, Rumo)
“Para chegar até onde não me presumo, mas sou, sigo em forma de palavra”.
(Thiago de Mello, Rumo)
“Tudo o que de mim se perde acrescenta-se ao que sou”.
(Thiago de Mello, Narciso cego)
Pois aqui está a minha vida. Pronta para ser usada. Vida que não guarda nem se esquiva, assustada. Vida sempre a serviço da vida. Para servir ao que vale a pena e o preço do amor.
(Thiago de Mello, A vida verdadeira)
“Cresci em Barreirinha, são 24h de barco para sair da capital e chegar até o município. A minha relação com meu pai sempre se deu através da música, da poesia, da arte. Então sempre foi muito natural para mim estar nesse universo artístico”, contou. “Sou muito ligado com esse município e com as memórias que ele nos traz, com a casa cheia de obras de arte, quadros e da relação dele com outros artistas. Essa relação com a arte sempre foi muito familiar” (Thiago de Melo, em entrevista)
“Faz escuro mas eu canto”, um dos mais belos versos de Madrugada Camponesa (1965), de Thiago de Mello

Madrugada Camponesa
Madrugada camponesa,
faz escuro ainda no chão,
mas é preciso plantar.
A noite já foi mais noite,
a manhã já vai chegar
Não vale mais a canção
feita de medo e arremedo
para enganar solidão.
Agora vale a verdade
cantada simples e sempre,
agora vale a alegria
que se constrói dia-a-dia
feita de canto e de pão.
Breve há de ser (sinto no ar)
tempo de trigo maduro.
Vai ser tempo de ceifar.
Já se levantam prodígios,
chuva azul no milharal,
estala em flor o feijão,
um leite novo minando
no meu longe seringal.
Já é quase tempo de amor.
Colho um sol que arde no chão,
lavro a luz dentro da cana,
minha alma no seu pendão.
Madrugada camponesa.
Faz escuro (já nem tanto),
vale a pena trabalhar.
Faz escuro mas eu canto
porque a manhã vai chegar.
(Faz escuro, mas eu canto)
3042-1006

Fonte

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