Manaus (AM) – Embora tenha sido proibido em 1998, os efeitos do diclorodifeniltricloroetano (DDT), inseticida usado para combater o mosquito transmissor da malária (Anopheles), continuam a ser sentidos até hoje. Não pelo pernilongo, mas pelos milhares de trabalhadores que manusearam a substância entre as décadas de 60 e 90 no Brasil, especialmente na Amazônia, onde a doença é endêmica.
Conhecidos como ‘soldados da malária’, esses ex-combatentes do Anopheles convivem com sequelas que vão de irritabilidade e insônia a doenças pulmonares e cardíacas, entre outras mais graves, causadas pelo manuseio inadequado do DDT.
Aposentados em sua maioria, e sem uma remuneração digna, que custeie os gastos com médicos e remédio, os ex-servidores da antiga Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam), hoje Fundação Nacional de Saúde (Funasa), agora lutam para conseguir o direito de ter um plano de saúde que os ajude em mais essa batalha.
“Só no Amazonas, foram centenas de trabalhadores prejudicados pelo DDT. Muitos até já faleceram vítimas de doenças causadas pelo pesticida. Na época, não tínhamos a mesma facilidade de informação que temos hoje, e não fomos orientados sobre o mal que o DDT poderia fazer à saúde humana”, conta o secretário-geral do Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Amazonas (Sindsep-AM), Walter Matos.
Ele mesmo um ex-soldado da malária, fala que sente na pele a falta de um plano de saúde, atualmente sendo pleiteado por meio da Proposta de Emenda à Constituição de nº 101, em tramitação no Congresso.
“Há anos, o Sindsep-AM luta pela reparação dos danos causados na vida desses trabalhadores. Atualmente, aliado a outras entidades, o sindicato trava um grande debate junto a parlamentares no Congresso Nacional, buscando garantir benefícios aos trabalhadores que por anos atuaram com material tóxico, prejudicando suas vidas e a vida de suas famílias”, argumenta.
Tramitação
De autoria do deputado federal Mauro Nazif (PSB-RO), a PEC 101 aguarda criação de uma Comissão Especial que possa avaliar o tema e decidir se aprova ou não a proposta de plano de saúde para os ex-soldados da malária. No dia 20 de outubro, o texto foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), mesa mais importante da Câmara dos Deputados, mas os ex-servidores da Sucam têm urgência no trâmite e prometem uma grande mobilização para que seja aprovada.
“A Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) enviará uma força-tarefa a Brasília entre 9 e 11 de novembro e o Sindsep-AM fará parte dessa ação. O objetivo é pressionar para a instalação dessa Comissão Especial, permitindo que a pauta continue em andamento”, explica Walter Matos.
Trabalho precário
A atuação dos ‘soldados da malária’ sempre se deu em condições extremamente precárias. Para borrifar o DDT, eles contavam apenas com um uniforme e um balde de ferro para o preparo do produto. Não havia luvas, máscaras ou qualquer outro equipamento de proteção individual que evitasse o contato da pele com o produto e muito menos sua inalação.
“Comecei a borrifar o DDT em 1989 e segui com esse inseticida até 1998, quando foi proibido. A experiência foi complicada, pois ficávamos muito expostos a ele. Diversas vezes precisamos misturar o material com as próprias mãos, porque não tínhamos equipamento adequado. Sentíamos coceira, dor de cabeça e formigamento na pele”, conta Vilmário Soares, de 59 anos.
Segundo o ex-soldado da malária, àquela época, os trabalhadores pensavam que esses sintomas eram causados pela roupa utilizada por eles, que cobria todo o corpo. “Hoje, temos certeza que não era a roupa e sim o DDT, por isso acredito que temos direito a esse plano de saúde, porque nós fomos os guerreiros que abraçaram a causa da malária para ajudar o país”, reflete o servidor.
*Com informações da assessoria
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