Protocolo alimentar pode trazer benefícios à saúde desde que orientado por um especialista; entenda os prós e contras da prática
São Paulo – No hall das dietas da moda, o jejum intermitente é um protocolo alimentar no qual há um horário definido para iniciar e terminar as refeições diárias. A cantora Kelly Key, que tem a prática como estilo de vida, revelou que fica cerca de 16 a 18 horas sem comer, hábito que a levou a perder 15kg.
Protocolo alimentar pode trazer benefícios à saúde desde que orientado por um especialista (Foto: Divulgação)
Mas, apesar de eficaz como método de emagrecimento, se o jejum intermitente não for orientado e acompanhado por um especialista, a janela alimentar — período no qual a pessoa pode fazer as refeições — e o tempo de jejum podem se tornar um gatilho para distúrbios alimentares ou para problemas como desnutrição, segundo Camila Marques, nutricionista especialista em comportamento alimentar e emagrecimento pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“Muitas pessoas associam que quanto menos comer, mais fácil será de perder o peso, mas isso é muito perigoso. Se a pessoa não tiver uma boa distribuição nutricional, ela não vai atingir as necessidades nutricionais e acaba não tendo os benefícios que ela poderia ter com o jejum intermitente, porque não está com o corpo nutrido, só tem um corpo com restrição calórica”, explica Camila.
A especialista destaca que o jejum intermitente é implementado de maneira individual, por um especialista que vai levar em consideração o histórico médico e alimentar do paciente, sua rotina, as dietas que ele já tentou e qual sua condição emocional para lidar com o protocolo, além de não servir apenas para fins estéticos de emagrecimento.
“São indicações diferentes para o que queremos do corpo enquanto metabolismo e não enquanto estética. O que será priorizado durante o jejum vai depender se a busca é por uma resposta mais específica de emagrecimento, por um controle de glicemia, por uma redução da resposta inflamatória do organismo, ou se é um tratamento específico de saúde, para pacientes oncológicos, por exemplo”, afirma Camila.
A forma como o organismo reage ao jejum também precisa ser observada, mesmo que a perda de peso ocorra ou que a pessoa se adapte aos horários de refeição, há alguns sinais que podem indicar que o corpo não está indo na mesma direção.
“É preciso estar atento porque às vezes o paciente consegue fazer o jejum, ele diz que se sente bem mentalmente e está perdendo peso, mas o intestino parou de funcionar. Ou a pessoa passa um período em jejum, tranquila, mas na hora de comer não consegue ter consciência sobre isso e come exacerbadamente, o que pode desenvolver alguns transtornos alimentares”, explica a nutricionista.
Neste sentido, o tipo de alimento ingerido durante a janela alimentar também conta para que o jejum seja feito de maneira saudável.
“Não é só o período que a pessoa vai ficar sem comer, mas o que ela vai priorizar quando for se alimentar, quais nutrientes ela precisa fornecer para o corpo, qual vai ser o comportamento dela durante essas refeições e qual o nível de consciência para fazer essas escolhas”, afirma a nutricionista.
Camila ressalta que o jejum intermitente, apesar de ser um estilo de vida para algumas pessoas, também pode ser usado de forma transitória, alternado com outros protocolos alimentares, e não de maneira rotineira.
“Isso é importante para ver como o corpo fica, se a pessoa vai conseguir controlar a fome. Trabalho com protocolos de 8 a 14 horas, 18 no máximo para casos específicos. Mas 12 horas de jejum é interessante para a maioria das pessoas, com um jantar às 20h e a primeira refeição às 08h, que é naturalmente o que muita gente faz”, explica.
Se realizado de forma correta e com acompanhamento especializado, além de auxiliar na perda de peso, o jejum intermitente pode trazer benefícios à saúde e contribuir para melhorar o relacionamento com a comida, segundo Camila Marques.
“Alguns estudos associam o jejum a uma melhor capacidade de concentração e, na prática, vejo muito que os pacientes relatam menos ansiedade por comer e isso de uma forma indireta já ajuda muito no processo de emagrecimento. A pessoa não fica pensando em comida o tempo todo e aí podemos trabalhar a questão da consciência alimentar, sobre a pessoa saber se está com fome, se quer comer e como está a composição do prato”, explica a nutricionista.
Por outro lado, se feito de forma errada, o jejum intermitente pode causar sérios danos à saúde, como desnutrição, problemas hormonais, intestinais, além de impactar a qualidade do sono, causar queda de cabelo e enfraquecimento das unhas, assim como problemas gastrointestinais e de baixa imunidade.
“Quando se fala em desnutrição, as pessoas pensam em uma pessoa raquítica, com a aparência de doente, e não é assim, a desnutrição está presente tanto em obesos como em pessoas com excesso de peso. No jejum intermitente se faz menos refeições ao longo do dia, então é muito comum ocorrer essa deficiência nutricional que resulta em todos esses problemas”, explica Camila.
Além disso, o jejum intermitente pode causar um efeito contrário do desejado.
“A perda de peso ocorre porque o metabolismo vai utilizar o estoque de gordura durante o período em que a pessoa não está comendo. Mas nem sempre o jejum intermitente vai funcionar assim, em alguns casos o organismo vai entender que ele precisa retirar essa gordura da parte muscular, então a pessoa acaba perdendo massa magra”, ressalta a especialista.
A nutricionista destaca que nem todas as pessoas podem aderir ao jejum como protocolo alimentar, sobretudo quando há alguma alteração de saúde que não esteja controlada, como diabetes e hipertensão.
“Em pacientes com diabetes tipo um, por exemplo, que fazem uso de insulina, é necessário respeitar o índice glicêmico e manter uma estabilidade de glicemia, para não ocorrer picos e cair de uma vez. Então se a pessoa faz jejum por muito tempo, ela pode ficar descompensada”, explica.
Fonte: Governo do Estado do Amazonas em 29/11/2021
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