O cenário epidemiológico é preocupante, diz Jesem Orellana, da Fiocruz Amazônia, porque a doença pode ser assintomática. Procure o médico nos casos dos sintomas mais comuns: febre alta, acima dos 38° graus, dor no corpo e articulações, dor atrás dos olhos, mal estar geral, falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas no corpo. Na imagem a cima, agentes da Fiocruz Amazônia fazem coleta na periferia de Manaus (Foto: ILMD/Fiocruz).
Manaus (AM) – O Amazonas já registra 3.934 casos de dengue em 2024, uma média de 157 pessoas são atingidas por dia pela doença, conforme as notificações referentes ao período de 1° de janeiro até esta quinta-feira (25), segundo o Governo do Estado. Não houve registro de mortes pela doença. Este número supera em quase 38% as notificações do mesmo período de 2023, quando 2.860 casos foram registrados – ou 114 casos por dia.
Os números de dengue disparam também em todo o país. De acordo com o Informe Semanal das Arboviroses Urbanas, do Ministério da Saúde, entre os dias 1° a 23 de janeiro, foram registrados 120.874 casos prováveis e 12 óbitos por dengue. Em 2023, houve a notificação de 44.753 casos e 26 óbitos no Brasil.
Em Manaus, já são 524 casos confirmados de dengue, segundo os dados do Boletim Epidemiológico de Arboviroses, da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), divulgados na última terça-feira (23/01). No período de 14 a 20 de janeiro, a cidade registrou 82 novos casos da doença, um aumento de 78,2% comparado à segunda semana do ano, 7 a 14 de janeiro, quando foram confirmados 46 casos.
A terceira edição do boletim, que além da dengue mostra os números de casos de chikungunya, zika, oropouche e mayaro, também informou que outras 1.440 notificações da doença estão sendo investigadas na capital.
De acordo com o epidemiologista e pesquisador Jesem Orellana, da Fiocruz Amazônia, o substancial aumento do número de casos de dengue e outras arboviroses, doenças transmitidas por insetos ou aracnídeos, se deve a uma série de fatores, incluindo aqueles relativos à crise climática. “Bem como os descuidos das vigilâncias nos municípios e Estado, ou mesmo da população geral, em relação à proliferação de larvas e mosquitos em seus domicílios”, disse.
O epidemiologista explica ainda que em casos em que as medidas de controle são limitadas, os surtos facilmente se tornam epidemias e resultam em adoecimento e morte evitável. Orellana diz que não é comum que o número de casos de dengue no Amazonas sejam tão expressivos, como têm acontecido nos últimos anos.
O governo do Amazonas informou que foram registrados 11.641 casos de dengue em 2022, e 16.930 casos em 2023. “Já era para termos tomado medidas efetivas e não ter naturalizado a crise”, afirma o pesquisador Orellana.
O cenário é preocupante para a saúde pública, declara Jesem Orellana, pois mostra uma situação epidemiológica nova e “a clara necessidade de respostas ao controle de uma doença que causa não apenas prejuízos aos cofres públicos, mas também adoecimento e morte evitável”.
“A interação entre insetos e humanos sempre existiu. A diferença nos tempos atuais é que estamos mergulhados no meio de uma era que alguns têm denominado de antropoceno (época geológica fortemente influenciada pela ação humana predatória), onde a ação humana tem alterado, para pior, nosso contato com agentes potencialmente patogênicos, resultando em surtos, epidemias e até mesmo pandemias emergentes”, disse o cientista.
Segundo Orellana, nos centros urbanos não é diferente: “quanto mais aumenta a temperatura média nas cidades, quanto mais se altera o regime de chuvas, bem como se aumenta a degradação de áreas verdes ou pouco ou nada se faz em termos de saneamento (distribuição regular de água potável, coleta seletiva de lixo, tratamento adequado de resíduos sólidos e líquidos, por exemplo) e de adequada ocupação do espaço urbano, mais doenças conhecidas se proliferam ou surgem doenças novas”, atesta.
Prevenção
O epidemiologista Jesem Orellana pontua que a dengue pode ser assintomática, mas em caso de sintomas, os mais comuns costumam ser: febre alta, maior do que 38° graus, dor no corpo e articulações, dor atrás dos olhos, mal estar geral, falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas no corpo.
“Neste caso, é necessário procurar a unidade de saúde mais próxima para o devido diagnóstico e acompanhamento por profissional de saúde, evitando surpresas negativas como agravamento do quadro clínico ou mesmo morte”, disse.
O tempo médio do ciclo de infecção é de 5 a 7 dias, e o intervalo entre a picada e a manifestação da doença chama-se período de incubação. É só depois desse período que os sintomas aparecem. Geralmente os sintomas se manifestam a partir do 3° dia depois da picada de mosquitos.
Já a transmissão de febre do Mayaro ocorre a partir da picada de mosquitos que se infectam ao se alimentar do sangue de primatas ou humanos infectados com o vírus Mayaro. Os casos suspeitos incluem sintomas de febre, dor e inchaço em articulações acompanhados de dor de cabeça, dor muscular, irritação na pele espalhada pelo corpo.
A febre oropouche também é uma arbovirose que está se tornando mais frequente em nosso meio, explica Jesem Orellana, sendo que seus sintomas costumam ser parecidos aos da dengue. “A diferença em relação à dengue é o menor risco de complicações e morte, por exemplo. Outra diferença em relação à dengue é o mosquito transmissor da doença em humanos, o Culicoides paraensis, mais conhecido como “maruim”, um inseto bem menor e de coloração marcantemente escura”.
Outros vetores também podem transmitir o vírus oropouche. Em Manaus, já são 372 casos da doença em 2024, segundo os dados divulgados pela Semsa. Os hospedeiros do vírus são primatas e bichos-preguiça. Os sintomas são semelhantes aos da dengue, como dor de cabeça, dor muscular, dor na articulação, tonturas, náuseas e diarreia.
Orellana orienta a eliminação de potenciais criadouros de larvas e mosquitos, além de proteção individual. “Por isso, é crucial tampar adequadamente reservatórios e qualquer local onde é possível acumular água, deixando esses lugares completamente cobertos ou vedados com telas, capas ou tampas firmes. A falta ou o limitado saneamento básico e a falta ou intermitência na distribuição de água potável, costumam piorar a situação e dependem mais do poder público, quase sempre negligente”.
No nível individual, o pesquisador afirma que é válido o uso de repelentes, roupas longas ou uso de mosquiteiros sobre a cama, telas em portas e janelas e, quando disponível, ar-condicionado, especialmente durante o dia, momento de maior atividade do mosquito.
Vacinação no Amazonas
O Ministério da Saúde anunciou nesta quinta-feira (25) que 12 municípios do Amazonas irão receber doses da vacina contra a dengue: Manaus, Iranduba, Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva, Barcelos, São Gabriel da Cachoeira, Careiro, Nova Olinda do Norte, Manaquiri, Santa Isabel do Rio Negro, Autazes e Careiro da Várzea.
O público alvo da vacina são crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. De acordo com o Governo Federal, esses são o grupo que concentra o maior número de hospitalizações por dengue. A aplicação da vacina Qdenga, um imunizante contra a doença desenvolvido pelo laboratório japonês Takeda Pharma, começa em fevereiro, e vai ser de responsabilidade das prefeituras. O esquema de imunização completo é dividido em duas doses com intervalo de três meses.
O Governo Federal vai distribuir as 750 mil doses dos imunizantes para 500 municípios em 16 estados. A escolha desses locais obedeceu uma série de critérios estabelecidos pela Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O que dizem as autoridades
Em nota enviada por e-mail à reportagem da Amazônia Real, a assessoria da Semsa declarou que, de acordo com o subsecretário de Gestão da Saúde, Djalma Coelho, o órgão está intensificando ações de prevenção e controle durante o período de chuvas, quando o ambiente se torna propício à infestação de mosquitos vetores das arboviroses. Os trabalhos incluem visitas domiciliares de agentes de endemias, para orientação a moradores e monitoramento de áreas de vulnerabilidade.
“Reiteramos a importância da eliminação de possíveis criadouros de mosquitos como principal medida de prevenção contra as doenças”, ressalta Djalma, que orienta a população a realizar, pelo menos uma vez por semana, uma vistoria nos quintais e no interior das casas em busca de eventuais reservatórios de água parada como garrafas, calhas, pneus e vasilhas para animais.
A pasta pede ainda que a população guarde pneus em área coberta ou faça o descarte correto do material, além de manter sempre tampadas as caixas d’água e vasos sanitários. As piscinas devem ser limpas, mesmo sem uso, com uso do cloro e filtragem periódica.
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