Dois terços (66%) dos entrevistados na Região Norte do Brasil destacam a conta de luz como o principal peso no orçamento doméstico, a situação mais grave do país.
É o que aponta uma pesquisa feita pelo Instituto Pólis, em parceria com o Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), que revela que a conta de luz se tornou um gasto quase insustentável para metade das famílias brasileiras.
Na última semana, a Agência Nacional de Energia Elétrica (AneelL) aprovou a Revisão Tarifária Periódica 2024 da Amazonas Energia S.A — empresa responsável pela distribuição e comercialização de energia elétrica para mais de 1 milhão de unidades consumidoras nos 62 municípios amazonenses.
A tarifa subiu 2,89% para os consumidores residenciais.
Segundo o estudo, que abrangeu todas as regiões do país, 49% da população aponta a energia elétrica como o item de maior impacto no orçamento, ao lado da alimentação. Segundo a pesquisa, 25% dos mais pobres reduzem consumo ou deixam de comprar comida para pagar fatura.
Para muitos brasileiros, o peso da conta de luz é tão grande que sacrifícios drásticos se fazem necessários. Um outro dado da pesquisa revela que 25% das pessoas pertencentes às classes D e E precisam reduzir ou até mesmo deixar de comprar alimentos básicos, como arroz e feijão, para conseguir arcar com o pagamento da energia elétrica.
“As tarifas de energia elétrica no Norte e no Nordeste do Brasil tendem a ser mais caras devido a uma série de fatores específicos da região. Em primeiro lugar, essas áreas têm uma menor densidade populacional e, portanto, uma demanda menor por energia, o que pode resultar em custos de distribuição e transmissão mais elevados”, destaca o Instituto Polis.
“A infraestrutura de transmissão de energia elétrica nessas regiões, muitas vezes, enfrenta desafios logísticos e geográficos significativos, como a vastidão territorial e as condições climáticas adversas, o que pode aumentar os custos de manutenção e operação”, complementa o estudo.
Detalhes
O levantamento também revela que a inadimplência energética afeta desproporcionalmente os mais pobres. Seis em cada dez famílias das classes D e E, com renda de até um salário mínimo (R$ 1.412), declaram que suas contas de luz estão em atraso.
Em resposta a essa crise, muitos brasileiros são obrigados a cortar gastos essenciais para conseguir pagar a conta de luz. A pesquisa aponta que 35% dos entrevistados reduziram ou deixaram de comprar alimentos básicos — e também bens de consumo — para quitar seus débitos energéticos.
“A ampla maioria da população defende que a falta de capacidade de pagamento da conta de luz não deve sujeitar as famílias inadimplentes a cortes de fornecimento, visto que o acesso à energia elétrica deveria ser assegurado como direito inviolável. Na opinião de 84% dos brasileiros, segundo os dados coletados pelo IPEC, a energia elétrica deveria ser um direito fundamental garantido pelo Estado”, escreve o Instituto Polis.
Além disso, a pesquisa revela disparidades marcantes no que diz respeito à renda e à raça e cor. Famílias com renda de até um salário mínimo (R$ 1.412) e pessoas negras são os mais afetados pela crise energética, demonstrando que a iniquidade energética é mais uma faceta das desigualdades sociais no Brasil.
Diante dessa realidade, a população acredita que medidas que garantam o acesso à energia elétrica como um direito fundamental, imune a cortes por falta de pagamento, devem ser tomadas.
Sete em cada dez brasileiros acreditam que as famílias de baixa renda deveriam ter prioridade em programas de acesso à energia elétrica.
Apesar da existência da Tarifa Social de Energia Elétrica, um programa do governo federal que concede descontos na conta de luz para famílias de baixa renda, muitos consideram que ela não é suficiente para aliviar o peso da conta de luz sobre os mais pobres (57%).
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